Vamos falar de cinema? Ok.
Mas, nesse post, vou escrever especificamente sobre filmes clássicos com, ou sobre, motocicletas, ou os que retratam o universo dos amantes das duas rodas, a cultura outlaw dos motoclubes americanos, os choppers que modificam suas Harleys no mais puro estilo “Easy Rider” e afins.
As duas Grandes Guerras popularizaram muito as motocicletas.
Se a WW1 mostrou como uma moto pode ser versátil no campo de batalha, a WW2 expandiu muito esse conceito. O esforço de guerra americano fez várias marcas produzirem suas versões militares para atender ao US Army e Aliados.
Dessas, a mais célebre foi a Harley-Davidson WLA 1942 “Liberator”, que era equipada com o motor FlatHead Twin Cam de 45 polegadas cúbicas, 750 cilindradas aproximadamente. A WLA era muito potente para a época, e extremamente resistente. A moto não quebrava, não importava o quanto era maltratada.
Os soldados que as usaram na guerra as amavam. No fim do conflito o US Army permitiu que os militares voltassem pra casa levando suas Harleys de presente, eram mais de 90.000 motos. Você tinha então dezenas de milhares de veteranos, pensionistas, com suas Harleys. Muitos destes tinham estresse pós-traumático e não conseguiram se reintegrar à sociedade americana. Não trabalhavam, mas recebiam pensão do governo.
Desta turma, que era considerada problemática, vieram os primeiros membros dos motoclubes outlaw, os "fora da lei"..
Mas este post não era sobre cinema e motos?
Vou voltar ao tema.
Esses beberrões arruaceiros, montados em Harleys, ficaram famosos no país em 1947. No dia 3 de julho daquela ano, cerca de 4 mil deles invadiram a pequena Hollister, na Califórnia. A cidade não tinha 5 mil habitantes.
Durante três dias esses bikers apavoraram os pacatos moradores com corridas de motos, manobras ousadas, muita bebedeira, brigas e todo tipo de comportamento ultrajante para a época. Os pais reclamaram que suas jovens filhas sofreram assédio daqueles selvagens imorais.
O “Hollister Riot” ganhou as páginas de todos os jornais americanos. À partir disso começaram a pipocar inúmeros outros motoclubes pelo país. Após a péssima publicidade para a venda de motos novas, e uma matéria de capa na revista Life, a American Motorcycle Association, que reunia os fabricantes de motos americanos, divulgou nota nos jornais dizendo que, apesar do ocorrido em Hollister, “99% dos motociclistas” eram boas e corretas pessoas.
Isso foi o mote para a turma dos baderneiros se definirem como os “1%” restante. Nascia a cultura dos motoclubes 1%, os que zombavam e ignoravam a lei. Eram os temidos One-Percenter.
Toda essa questão serviu de enredo para o primeiro filme sobre motos e os bikers, o clássico “The Wild One”, (O Selvagem) do diretor László Benedek, de 1953. O então promissor astro, Marlon Brando, interpretou o líder da gangue, Johnny Strabler, Lee Marvin vivia o oponente de Brando.
“O Selvagem”, iniciou o gênero do cinema e motos. O filme gerou muita controvérsia na época, sendo proibido em muitos condados nos USA e em vários outros países pelo mundo. Na Inglaterra o filme ficou proibido até 1967 (!!!).
Brando criou o estereótipo do motociclista arruaceiro, violento, beberrão, vestido com as indefectíveis jaquetas de couro.
Uma curiosidade: as 2 motos dos protagonistas não eram Harleys, mas as inglesas Triumph, modelo Thunderbird 1950. Quase todas as outras eram Harleys, mas as que apareceram em destaque na tela não. Especulou-se que a Harley-Davidson se negou a financiar o filme, chegando mesmo a proibir que usassem suas motos.
Ainda eram as consequências e a má publicidade do “Hollister Riot” que a Harley temia.
Os anos 1960 trariam, talvez, o filme mais emblemático sobre bikers e motos. “Easy Rider”, com uma direção improvável, e nada ortodoxa, de Dennis Hopper, estreou em 1969. Trazia grandes nomes como Peter Fonda, Jack Nicholson e o próprio Hopper.
O filme tinha na abertura o maior clássico do rock’n roll ligado às duas rodas: “Born To Be Wild” da banda Steppenwolf. A trilha sonora incluía nomes como The Band, The Byrds e Jimi Hendrix Experience.
Mesmo quem não anda, nem sabe nada de kustom kulture, identifica Easy Rider nos primeiros acordes da música de abertura. O filme fez um sucesso monstruoso e moldou toda uma cultura ligada às Harleys. Sim, você até pode pilotar uma outra moto custom, mas a Harley é A MOTO da kustom kulture por excelência.
Com o gênero consolidado, inúmeros outros filmes de motos surgiram.
Na minha videoteca esses filmes têm grande destaque. Tenho um carinho todo especial por dois deles.
O primeiro é o cult movie “Harley-Davidson And Marlboro Man”, do diretor Simon Wincer, estrelado por Mickey Rourke, Don Johnson, Tom Sizemore e Daniel Baldwin.
O filme foi lançado em 1991, na época eu estava no Exército. Vi o filme no cinema umas 4 vezes. Fiquei maluco com aquilo. A cena inicial definiu o que eu queria como minha moto: uma Harley, com lendários escapamentos Vance & Hines e o icônico filtro de ar S&S Cycle dos anos 1950. A minha Fat Jane, uma Harley Fat Boy, tem exatamente esses dois acessórios.
Outro destaque do filme é a trilha sonora. Ela trás o grande petardo do Bon Jovi, “Wanted Dead Or Alive” na inesquecível cena de abertura. Na cena final a trilha é da obscura e efêmera banda Blackeyed Susan, mas a música "Ride With Me" é belíssima. Ela só está disponível no streaming do Deezer.
Ainda hoje eu adoro esse filme.
O outro meu grande favorito é o “Exterminador do Futuro 2 - O Julgamento Final”. O filme também é de 1991, foi dirigido por James Cameron e trás Arnold Schwarzenegger de novo no papel do Exterminador, mas desta vez ele vem para proteger o futuro líder da rebelião contra as máquinas, John Connor.
Além do hit do Guns N’ Roses, “You Could Be Mine”, a película tem algo ainda mais especial. A então recém lançada Harley-Davidson Fat Boy, fez uma participação em grande estilo: foi a moto pilotada pelo Exterminador. Até hoje nos referimos à Fat como a moto do Terminator.
Foi dois grandes sucessos, o filme e a Fat Boy. Desta época nasceu minha paixão pela Fat, e muito por esse filme Miss Fat Jane está na minha garagem hoje.
Vieram muitos outros grandes filmes com motos ao longo dos anos.
2008 trouxe uma serie de grande sucesso no canal FX nos USA. “Sons Of Anarchy” conta a estória de um motoclube outlaw 1%, formado por veteranos da Guerra do Vietnam. O criador Kurt Sutter, do sucesso “The Shield”, assina a produção. Charlie Hunnam vive Jax Teller, o Vice Presidente do clube.
A série teve 7 temporadas, 92 episódios e fez muito sucesso. Sutter é conhecido pela violência de suas produções. SAMCRO, acrônimo de Sons Of Anarchy Motorcycle Club Redwood Original, é bem pesada. E tem, é claro, ótima trilha sonora.
Vou parar por aqui, vou postar fotos com indicações de outros bons filmes de moto.
Destaque para o recente, e muito bom, “The Bikeriders”, de 2024, que trás um dos meus atores favoritos na atualidade, Tom Hardy, além de Austin Butler, Jodie Comer e Michael Shannon. Trata-se de uma incrível versão romanceada de uma história real dos Vandals MC do meio-oeste americano.
E aí? Você viu esses filmes?
Esses filmes me dão aquela vontade de montar na Fat Jane e sair por aí “barbarizando”, num comportado sentido. E claro, quando for ouvir as trilhas, já sabe né?
OUÇA SEMPRE NO VOLUME MÁXIMO, de preferência com um bourbon, um charuto e com uma Harley por perto.
Live To Ride…
Ride To Live…
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