quinta-feira, 7 de agosto de 2014

COMO E PORQUE DESCOBRI O APAIXONANTE HÁBITO DA LEITURA.

Sou daquelas pessoas que, hoje, acredito raras, que não suportam a ideia de não ter um livro sempre à mão, esteja onde estiver. Carrego livros na mochila, no carro, eles estão espalhados por todos os cantos. Em casa, várias vezes por dia dou uma “namorada” nas minhas estantes, a parte mais sagrada do lar, a minha igreja pessoal.

Não consigo conceber um ser humano que não lê um livro. Isso me soa absurdo. Fico chocado com as desculpas esfarrapadas que ouço, “não tenho tempo”, “ele é muito grande”, “vou ler o resumo”, “não gosto de ler” e outras pérolas de uma sociedade vazia, tola e superficial. Vivemos em tempos de novas tecnologias, da chamada era digital, onde todos estão logados e conectados o tempo inteiro.

Aqueles “15 minutos de fama” que Andy Warhol profetizou nos anos 1960 que todos teriam são realidade hoje. Todos tem acesso a uma quantidade fenomenal de informações. O problema é separar o “joio do trigo”. Tem muita porcaria na internet. Infelizmente muita gente trocou o livro pelo Wikipedia, nem sempre confiável. As pessoas tem preguiça mental de ler. Sou acusado com frequência no facebook de escrever demais. Garotos me dizem que não lêem meus textos, porque “são muito longos”. Chocante.

Considero isso um problema grave de nossos tempos. Ninguém se aprofunda em nada, superficialidade é a palavra de ordem. Era da Idiocracia.

Bom, mas eu devia estar me atendo ao tema do meu “post”, desviei e acabei sendo um pouco rabugento. Vosso blogueiro pede desculpas.

Como afirmei no título uma das maiores verdades sobre a leitura é que ela é um hábito. E esse hábito pode ser ensinado e incentivado. Isso é estupendo. Vou resistir a tentação de, mais uma vez, desancar os ignorantes de hoje em dia para explicar como isso se deu comigo.


Enciclopédia Britannica, sonho de consumo na era pré-internet.



Quem nasceu nos anos 1960 e 1970 muito provavelmente teve em casa uma enciclopédia. Ah, as enciclopédias "Britannica" e a "Barsa" eram objetos de desejo. A "Britannica" foi a primeira enciclopédia do mundo, editada em 1768 no Reino Unido. Sua última edição foi em 2010, tinha 32 volumes e pesava 130 quilos. Em março de 2012 a "Britannica" encerrou sua publicação em papel, depois de 244 anos ensinando gerações. Meu pai acabou comprando uma versão mais barata, mais modesta, a Enciclopédia Abril, que continha 15 volumes.



Enciclopédia Abril, a primeira que ganhei.




Na era do Google um garoto hoje provavelmente nunca viu uma enciclopédia na vida. Basta explicar que não existia internet, nem computadores em casa, os “PC” só chegariam aos lares brasileiros nos anos 1990.

Fiquei fascinado com a minha enciclopédia. Comecei no volume 1 e fui lendo todos os verbetes. Eu devorei aquilo com afinco. A descoberta de um mundo novo e admirável. Em 1982 morávamos em Cuiabá/MT e meu pai foi transferido para Belo Horizonte logo no começo do ano. Eles me inscreveram na prova de seleção do Colégio Salesiano, que tinha a fama de ter um excelente ensino e uma prova de admissão aterrorizante.


Fachada do Colégio Salesiano nos dias atuais.



Aprovado com louvor, modéstia à parte, se me permitem esse pequeno e "pecaminoso" arroubo de vaidade, ingressei no Salesiano, o velho Salê. O colégio era um mundo inteiramente novo e imenso pra mim, nunca tinha estado em algo parecido. Me senti um pouco como o garoto da música em “O Reggae”, de Renato Russo:


“Ainda me lembro aos três anos de idade,
O meu primeiro contato com as grades,
O meu primeiro dia na escola,
Como eu senti vontade de ir embora...”


Acreditem, eu era incrivelmente tímido e essa foi uma experiência que me marcou muito. Como disse antes o colégio era imenso, turmas de maternal, desde a creche, de primeiro grau, das antigas 1ª a 8ª séries e o segundo grau com os 3 anos, sendo o terceiro integral, aulas o dia inteiro.


O Salesiano de BH hoje em dia.



Era uma escola católica, da ordem dos Salesianos, fundada pelo padre Dom Bosco. Havia também um seminário no último andar do prédio maior. Esse andar era proibido aos alunos. Sempre ficávamos pensando o que acontecia ali.

Eu ingressei na 4ª série. As coisas pareciam piorar a cada dia. Até que fiz uma descoberta que mudou minha vida. A professora de português Márcia nos apresentou a biblioteca do colégio. Fiquei maravilhado, era uma daquelas bibliotecas imensas, enormes, que vemos em filmes antigos, estantes de madeira a perder de vista. (Vi recentemente pelo website do colégio que a biblioteca está bem diferente, parece menor, ou será que a idealizei em minhas lembranças?) 

Foi uma aula inteira lá, aprendendo a como localizar livros por temas, assuntos, matérias, etc. Conheci ali uma pessoa que teria um papel fundamental em minha educação e em minha vida: a bibliotecária, a inesquecível dona Tereza. Que saudade sinto dela ao escrever essas linhas.


Pelo site do colégio a biblioteca atual me parece totalmente diferente das minhas lembranças.



Bom, mas voltando ao assunto a dona Tereza nos explicou que poderíamos pegar livros emprestados na biblioteca do colégio. Uau!!! Tínhamos de fazer uma ficha , fui o primeiro a fazer a minha. Era daqueles fichários antigos, de metal, na ficha ia sua foto e demais dados do aluno, e se lançava nela os livros emprestados com as datas de empréstimo e de devolução.

No dia seguinte fui a biblioteca e pedi ajuda à dona Tereza. O que eu deveria começar a ler? Ela me apresentou a uma coleção muito antiga, das obras completas de Monteiro Lobato. Nas semanas seguintes eu devorei aqueles livros. Lia vorazmente e quase nunca pedia extensão do prazo de 10 dias do empréstimo original. Normalmente eu entregava o livro antes. O cheiro do livro velho era viciante.

De Lobato pulei para Ziraldo, “Meu Pé de Laranja-Lima”, Autran Dourado, Orígenes Lessa, li toda a “Coleção Vaga-Lume” bem como a coleção “Para Gostar de Ler”, “Robinson Crusoé”, “A Ilha do Tesouro”, tudo de Jules Verne e tantos outros clássicos infanto-juvenis. Os anos se passavam e eu ia amadurecendo entre aquelas estantes de sonho da biblioteca. Eu viajava sem sair de BH, percorria todo o mundo em minhas leituras, eu estava em outra dimensão.

O colégio fazia um concurso de leitura, para os alunos que lessem o maior número de livros no ano. Ganhei esse prêmio diversas vezes durante todo o tempo que estudei lá.

De novo tenho de pedir desculpas, modéstia à máxima parte, os professores me achavam um tanto precoce. Eu estava sempre lendo livros que eles consideravam que não eram adequados à minha idade. Felizmente na biblioteca da dona Tereza não existia censura.

Descobrir bibliotecas era meu esporte favorito. Nessa época meu pai tinha um amigo que visitávamos sempre. Num dia, aniversário de um de seus filhos, aniversário de criança, que sempre odiei, ficava sempre perto dos adultos. Nesse dia eu deixei os adultos conversando e fui “explorar” a casa do amigo de meu pai. Descobri seu escritório e muitas estantes cheias de livros. Escolhi um livro, sentei no chão e comecei a ler.

Cerca de 2 horas depois estavam a minha procura. O amigo de meu pai me achou no chão do escritório e ficou surpreso com o número de páginas que eu tinha lido do livro.

A obra era o árido “Por Dentro do Terceiro Reich” de Albert Speer. O bom Dr. Márcio, amigo de meu pai, me deu esse livro de presente, dizendo que ele próprio nunca tinha conseguido ler. Foi o primeiro livro que iria compor minha futura biblioteca. Tenho um grande carinho por esse livro e o Dr. Márcio Mendonça é alguém muito especial pra mim.


Por Dentro do III Reich foi o primeiro livro de minha coleção.



Sendo meio precoce, eu já sentia uma dificuldade em aceitar nossa existência como nos era ensinada. Nunca me conformei muito em me conformar. Era tido como rebelde, nas aulas de religião, que eu sempre odiava, achava aquilo a maior perda de tempo, eu questionava tudo. Como eu lia muito, e de tudo, e cheguei a bater boca com os padres em diversas ocasiões, sempre tinha bons argumentos. Vosso blogueiro se revelava um guri insolente. Mas falava com embasamento, eu lia os livros deles. Acho que a bíblia, estudada a fundo e com rigor histórico, é a maior ferramenta de criar ateus do mundo. Se por um lado tenho as melhores lembranças possíveis do Colégio Salesiano, por outro ali eu aprendi a odiar padres e afins, por motivos que prefiro não revelar. Antes que alguém faça uma "gracinha" eu aviso que não fui vítima de pedofilia. (risos incontidos)

Aquela fase em que você não é menino nem homem, a chamada adolescência, trouxe muitas descobertas, a maioria delas vieram em forma de livros. Vou citar alguns livros que mudaram minha vida pra sempre. “O Apanhador no Campo de Centeio”, de J. D. Salinger foi um deles. O inesquecível Holden Caulfield, protagonista da obra, tinha 16 anos, e eu tinha 15 quando li o livro. Li e pirei. Aquilo foi incendiário e revelador. (Quase 30 anos depois eu reli o livro, esses dias, e ele continua mágico.)


Um dos meus livros favoritos desde sempre.



Em seguida li outro livro antológico: “O Encontro Marcado” de Fernando Sabino. Putz, eu me identifiquei com o Eduardo, eu sentia as mesmas angústias dele. Eu sentia aquela dor. Aí, talvez, esteja o maior motivo da minha paixão pelos livros: eu sou capaz de viajar nele, o livro me transporta para outro mundo, até hoje me encanto com isso. Alguns poderiam dizer que se trata de uma fuga, eu diria que é algo quase místico.


Igualmente marcante pra mim a obra-prima de Fernando Sabino.



Quais livros podemos e devemos ler? E qual será o melhor momento de ler? Não existe resposta para isso. Desde garoto tentei ler o máximo possível. Descobri a geração beat, Kerouac, Burroughs, Ginsberg. A poesia de Rimbaud, Baudelaire, Jim Morrison, T.S. Eliot, Neruda, Pessoa. Depois veio a fase da faculdade, livros de Economia, Marx, Engels, filosofia, Nietzsche, Kant, Sartre, Bertrand Russel, Foucault e outros. Depois livros de Direito.


Minha coleção sobre Jim Morrison e The Doors.



A turma falava em “livros de formação”. Ouvia o tempo todo: “você precisa ler esse”. Desde essa época eu já tinha uma extensa e ambiciosa “lista, ou fila, de leitura”. Era uma época em que não nos cansávamos de "ouvir falar em Freud, Jung, Engels e Marx, intrigas intelectuais rolando em mesas de bar", como Renato Russo cantava na música da Legião Urbana. Hoje isso morreu, as pessoas ficam ligadas apenas em seus iPhones.


Meus livros sobre a Legião, Renato Russo e o rock de Brasília.



Relembrando isso hoje não dá para negar uma pontinha de frustração em saber que nessa minha lista de leitura ainda constam alguns livros “impossíveis”, tais como “Em Busca Do Tempo Perdido” de Proust, “Ulysses” de Joyce, dentre outros. Tenho em casa todos eles e comecei a lê-los dezenas de vezes, sem conseguir ir adiante. Sim, isso me frustra. (Ainda não desisti, não posso morrer sem ler Proust e Joyce.)



Joyce e Proust continuam quase impenetráveis, são desafios que preciso vencer ainda.



Adulto li tudo de Ernest Hemingway, um dos meus autores favoritos, li Tolstoi, Dostoievski, Turgueniev, Nabokov, Hesse, Mann, Fitzgerald, Cervantes, Dumas, Victor Hugo, Rubem Braga (amo o velho Braga) e vários outros clássicos.


Minha coleção de Hemingway, um dos meus favoritos.



Depois do colégio fui para o Exército, para o Curso de Formação de Oficiais, no CPOR/BH. Eles tinham uma biblioteca sensacional. Descobri uma nova paixão: a História Militar. Clausewitz, Guderian, as batalhas de Napoleão, as duas guerras mundiais, Vietnan, etc.

Hoje procuro ler tudo que ainda não li e me interessa. Infelizmente sei que vou morrer sem conseguir fazer isso. Como leitor me tornei um bibliófilo, coleciono livros, minha pequena biblioteca cresce mas minha “fila de leitura” cresce ainda mais rapidamente. Comprar livros é uma de minhas atividades preferidas. Um leitor compulsivo me compreenderá. E sempre leio mais de um livro ao mesmo tempo. Atualmente estou lendo 5 obras simultaneamente.


Meus livros sobre Hitler e o Terceiro Reich.



Sou daqueles leitores antigos, preciso do livro de papel, que me perdoem os mais “moderninhos” ou mais “antenados” mas eu pretendo resistir até a morte aos insossos e-books. Quanto mais velho melhor é o livro, sou viciado em livros velhos e claro, em sebos. Se as pessoas pudessem saber como é revigorante e excitante passar uma tarde inteira garimpando preciosidades num bom e velho sebo. Saudades dos sebos de BH e de Sampa.


Parte de minha biblioteca.



Meus livros estão cheios de grifos, anotações, etc. Adoro quando releio um livro antigo e encontro anotações antigas, às vezes com muitos anos, é incrível rever essas ideias e sentimentos. Reler livros é outra prática que adoro. Algumas obras prediletas já li 3, 4 ou mais vezes.


Parte da minha coleção de marca-páginas. O de Firenze 2008 foi presente da Luc.



Uma outra coisa que agrada ao leitor aficionado são os marca-página. Tenho uma vasta coleção deles. Os principais museus do mundo vendem em suas lojinhas esses objetos às vezes ignorados. Sempre que viajo volto com muitos novos modelos. Muitos amigos trazem de presente esses marca-página, tenho até hoje um que minha amiga Luciana trouxe de Firenze, na Itália, em 2008.


Meu carimbo "Ex-Libris".



Outro ítem essencial para o leitor tradicional, daqueles que prezam sua biblioteca, é o carimbo de "Ex-Libris". A expressão latina pode ser traduzida como "livros de" ou "biblioteca de". Ou seja, indica quem é o dono do livro. É aquela etiqueta, ou carimbo, colada geralmente nas primeiras folhas de um livro, podendo, através de uma imagem ou texto, indicar a profissão e os gostos do dono do livro, bem como até um (nem sempre) discreto lembrete a um eventual surrupiador da obra. O ex-libris do desenhista e caricaturista francês Gus Bofa (1883-1968), por exemplo, indagava sarcástico: "Esse livro pertence a Gus Bofa. / O que está fazendo aqui?".



Minhas escaletas cheias de livros.



O leitor contumaz é sobretudo um recluso. Fico abismado em ver que a “garotada” de hoje nunca leu um livro na vida, eles não sabem falar, não sabem escrever, é um horror. Não tenho grandes esperanças nas gerações vindouras. Parece que cada vez mais estamos cercados de idiotas ignorantes.

Mas, a vida pode sempre nos surpreender. Uma prima de minha esposa, uma garota de 15 anos, é uma dessas gratas descobertas. Já é uma leitora compulsiva. Um viciado sabe reconhecer o outro. Apesar de não ter havido um grande estímulo por parte da escola ela descobriu a leitura e sua magia. Fiquei encantado com isso. Gostaria de ter uma filha assim.

Da mesma forma que pessoas abriram suas bibliotecas para mim quando jovem pretendo servir de cicerone e guia de minhas estantes para a jovem Isabella.

Devo tudo o que sou hoje aos meus anos de formação no Colégio Salesiano. Tive grandes Mestres, daqueles catedráticos que hoje não existem mais. A saudosa Mestra Vera, minha professora de Literatura, Gramática e Redação, o bom e velho Mestre Mardônio, que é responsável pelo meu amor pela História, os professores Chico, Oswaldo, Antônio e tantos outros. Meu saudoso professor de Latim, Mestre Osvaldo, que saudade.

Mas foi a querida dona Tereza me apresentou aos livros, e isso foi a coisa mais fantástica que alguém poderia ter feito por mim. Ela, que tanto me incentivou, foi minha companheira de anos e anos de leituras. Devo muito a ela.

Dizem que você pode conhecer um homem pelos livros que ele lê. Acredito que, de certa forma, isso é verdade. Alguém que tiver a chance de observar minhas estantes acabará descobrindo minhas paixões, minhas crenças e minhas predileções. Aqui vale outro comentário, adoro quando recebo visitas que ficam olhando minhas estantes, coisa rara. Felizmente temos vários bons amigos que compartilham essa paixão. Nem preciso dizer que para mim o melhor presente é um livro, ou muitos.

Gostaria de dedicar esse post de minhas reminiscências literárias à jovem Isabella. Tenho escrito pouco no blog, reclamo que quase ninguém lê. Mas conversando com ela voltei aos meus 15 anos, naquela mesma empolgação e urgência literária que parecia nunca ter fim. Vi o mesmo brilho nos olhos que eu também tinha.

Temos vivido dias desleais, tristes e um tanto melancólicos. Mas, nessa madrugada estou com sentimentos mais alvissareiros. A jovem Isabella me deixou feliz. Fico torcendo para que existam muitas outras como ela.

Vou dormir com o dia amanhecendo, mas nem tudo está perdido, e temos muito ainda por fazer...

Encerro inspirado pelos versos de Fernando Sabino, que falam do encontro marcado que todos temos com essa coisa complicada e dura que é a vida...


“De tudo ficaram três coisas... 

A certeza de que estamos começando... 

A certeza de que é preciso continuar... 

A certeza de que podemos ser interrompidos 
antes de terminar... 

Façamos da interrupção um caminho novo... 

Da queda, um passo de dança... 

Do medo, uma escada... 

Do sonho, uma ponte... 


Da procura, um encontro!”

quinta-feira, 15 de maio de 2014

UM ROTEIRO PARA SEGUIR OS ÚLTIMOS PASSOS DE JIM MORRISON

Para a legião de fãs de Jim Morrison visitar o Cemitério de Père-Lachaise, em Paris, é um grande sonho, quase um dever de peregrino, como o muçulmano que deve ir a Meca pelo menos uma vez na vida. Afinal, lá repousa James Douglas Morrison, poeta e líder de uma das maiores bandas de todos os tempos: The Doors.

Jim Morrison buscou refúgio na capital francesa em março de 1971. Ele queria uma vida mais calma, anônima, para poder escrever suas poesias em paz. Tinha decidido deixar de ser um "rockstar". A celebração quase religiosa em torno de sua imagem estava consumindo esse jovem de apenas 27 anos. Ele também queria se afastar do processo que era movido contra ele em Miami, Flórida, por causa de tumultos em um show dos Doors em 1º de março de 1969.

Já em Paris, ele fez uma reveladora confissão aos amigos Hervé Muller e Yvonne Fuka:

"Eu estou tão cansado de tudo. As pessoas continuam pensando em mim como uma estrela do rock and roll e eu não quero ter mais nada a ver com isso. Eu não aguento mais isso. Eu ficaria muito feliz se as pessoas não me reconhecessem. Quem eles pensam que Jim Morrison é, afinal?"

Paris fascinava Jim, da mesma forma que fascinou os expatriados norte-americanos nos anos 1920. Intelectuais, escritores, poetas, pintores dentre outros foram viver na Paris dos "anos loucos", período entre os anos que separam as duas Guerras Mundiais. Paris exalava pelos poros uma efervescência cultural e uma vanguarda comportamental sem igual no mundo. Ernest Hemingway chamou a Paris da época de "a moveable feast", (uma festa em movimento).

Jim com Hervé Muller em Paris, junho de 1971.

Jim esperava encontrar essa Paris literária, poética e fecunda. Planejava morar na cidade. Infelizmente ele não conseguiu realizar seus projetos, morreu em Paris, em 3 de julho de 1971. Ele supostamente morreu em sua banheira, em seu apartamento no bairro parisiense do Marais. Não vou entrar na questão das causas de sua morte e das polêmicas depois dela.

Nesse "post" pretendo escrever um pequeno guia para aqueles que sonham em visitar seu túmulo no Père-Lachaise e também percorrer os locais por onde Jim passou entre março a julho de 1971.

Um dos quadros favoritos de Jim era "Os Jardins das Delícias", do pintor flamenco Hieronymus Bosch, que pertence ao Museu do Prado, em Madri. Portanto, ao chegar na Europa uma das primeiras coisas que Jim fez foi visitar a capital espanhola. Ele era fascinado pela obra de Bosch.


"Jardins das Delícias, Bosch, 1504" Museu do Prado, Madri.


Depois de Madri, Jim foi a Granada, depois alugou um Renault 4 e foi para a Andaluzia, no sul da Espanha. Lá, na cidade de Algeciras, ele pegou um "ferryboat", cruzou o Estreito de Gibraltar e foi para a cidade marroquina de Tânger. Lá se hospedou no famoso El Minzah Hotel, que já teve um sem número de hóspedes famosos, como Winston Churchill em 1942. Jim ficou no quarto 328, o mesmo onde Churchill ficou.


Travessia do Estreito de Gibraltar, ao fundo o porto de Tarifa, Espanha.


Hoje em dia a travessia parte da cidade de Tarifa, próxima a Algeciras. Tânger havia abrigado anos antes os escritores "beatnicks" Jack Kerouac, William Burroughs, Allen Ginsberg e Paul Bowles. Todos eles eram do interesse de Jim.



El Minzah Hotel, em Tânger, Marrocos.



Quarto 328 do El Minzah Hotel, onde Jim ficou em 1971.



Depois de andar pelo Marrocos e ver o deserto Jim então retornou a Paris. A cidade o maravilhava. Ele andava pelas mesmas calçadas e bebia nas mesmas "brasseries" onde Oscar Wilde, Baudelaire, Rimbaud estiveram antes. Na cidade ele tentou escrever. Um dos locais prediletos de Jim em Paris era a "Place des Vosges". A praça belíssima é um dos tesouros parisienses, aqui morou Victor Hugo, e aqui Morrison escreveu vários de seus últimos textos.



Place des Vosges, Paris.



A "Place des Vosges" fica no bairro do Marais, bem próximo ao apartamento de Jim, na margem direita do Sena, em Paris. Local de peregrinação dos fãs o apartamento fica no terceiro andar, no número 17 da Rue de Beautreillis. Estive lá em três ocasiões diferentes e entrar no prédio é bem difícil. Os moradores estão fartos dos turistas e suas histórias. Nunca consegui entrar lá.


Prédio na Rue de Beautreillis, 17, onde Jim morou em Paris.

Antes de falar do túmulo de Jim no Père-Lachaise, vou listar alguns locais onde ele esteve em Paris, e que podem interessar ao fã que deseje fazer um "roteiro morrisoniano" pela cidade.

Jim se hospedou em dois hotéis na cidade antes de ir para o apartamento: o luxuoso George V, até hoje na Avenue George V e o modesto Hotel Beaux-Arts, no número 4 da rua de mesmo nome. Jim detestou a soberba do George V e o chamou de "prostíbulo vermelho de luxo". Hoje em dia no lugar do Beaux-Arts funciona uma galeria de arte.

No Boulevard Saint-Germain existem alguns lugares de interesse do fã de Jim. A Brasserie Lipp, que ele adorava, é um deles, o Cafe de Flore, outro. Quase ao lado da Lipp, no número 153, ficava o Bar L'Astroquet, que não existe mais, hoje funciona um hotel no lugar.  Os porres dionisíacos de Jim no Astroquet se tornaram lendários. Jim também frequentava o mítico La Coupole, no Boulevard Montparnasse.

Na Rue Saint-Andrés des Arts, número 61, funciona o The Mazet, local onde Jim foi visto com vida pela última vez, em 1º de julho de 1971. Um fã norte-americano o reconheceu. Na época o bar se chamava "Le Mazet".

O "The Mazet", último local em que Jim foi visto com vida, em 1º de julho de 1971.


Na Rue de Seine número 57 funcionava a boate "Rock 'N Roll Circus". Existe uma teoria controversa de que Jim teria morrido na boate e depois levado para o apartamento, na madrugada de 3 de julho. A boate não existe mais.


Rue de Seine, 57: aqui funcionava o "Rock N Roll Circus", o bar rock na Paris de 1971.


Poucos dias antes de morrer Jim Morrison havia visitado o "Cimetière du Père-Lachaise" (http://www.pere-lachaise.com) e se impressionado com o lugar. Mencionou ao amigo francês Alain Ronay que gostaria de ser enterrado lá, um dia.  O maior cemitério de Paris data de maio de 1804 e na época os parisienses o consideravam muito distante da cidade. O nome do cemitério é uma homenagem ao Padre Lachaise, confessor do rei Luís XIV.


Entrada principal do "Cimetière du Père-Lachaise".

O cemitério abriga muitos túmulos famosos. Além de Jim estão enterrados aqui Oscar Wilde, Marcel Proust, Balzac, Moliere, Edith Piaf, Delacroix, Modigliani, Chopin dentre muitos outros.

O túmulo de Jim é de longe o mais procurado no cemitério e, diz a lenda, a quarta atração mais visitada de Paris. Jim foi enterrado aqui na tarde do dia 7 de julho de 1971, com um contrato de 30 anos do jazigo. Desde o anúncio de sua morte seu túmulo passou a atrair multidões de fãs e curiosos. As pessoas costumavam pichar as lápides, indicando o caminho até Jim. Eram comuns festins regados a álcool e drogas e aconteceram muitas depredações.


Aspecto do túmulo de Jim em 1972, ainda sem lápide.


Tudo isso incomodava sobremaneira os familiares dos túmulos vizinhos de Jim e a administração do cemitério.  Em 1981 o artista croata Mladen Mikulin esculpiu um busto de Morrison, que foi colocado em sua lápide. A escultura era em mármore e pesava 280 kg. Os fãs passaram a arrancar pequenos pedaços do busto como "souvenir". Finalmente, em 9 de maio de 1988, o busto foi roubado.

Os incidentes envolvendo fãs de Jim no cemitério continuaram a acontecer. Entretanto, em 3 de julho de 1991, data que marcava os 20 anos de sua morte, aconteceram os piores e mais graves tumultos. Durante todo o dia centenas, milhares de pessoas ficaram no túmulo, o cemitério estava lotado. Os funcionários tentaram fechar o cemitério no começo da noite e os fãs não permitiram.


Fãs se aglomeram na porta do Père-Lachaise, em 3 de julho de 1991. (Foto de Michelle Campbell)


A coisa acabou como uma batalha campal entre os fãs e a polícia. Muita depredação, carros incendiados e prisões. Algo que Jim, sempre tão desobediente, aprovaria. Essa data marcou a mudança da postura da administração do cemitério e da polícia com os fãs de Jim.


Tumultos no cemitério em 1991: como Jim diria: "sem limites, sem leis". (Foto de Michelle Campbell)

                             Vídeo feito no Père-Lachaise em 3 de julho de 1991, nos 20 anos da morte de Jim.


Desde então existe muita vigilância no túmulo de Jim. Funcionários do cemitério e policiais fazem rondas constantes. Os fãs mais afoitos sempre pulam as grades que protegem o túmulo e isso quase sempre acaba em confusão.


Os transgressores são ameaçados com prisão e multa ao pular a grade.



Grades protegem o túmulo de Jim, foto de 2011.



Em 3 de julho de 2001 expirou o contrato do jazigo no cemitério. Familiares dos túmulos vizinhos organizaram um "abaixo-assinado" pedindo que o contrato não fosse renovado e que os restos de Jim fossem removidos para outro local. Entretanto a prefeitura de Paris não os atendeu e renovou o contrato por mais 30 anos. O motivo claro é que Jim Morrison ainda atrai muitos fãs, turistas, e estes gastam muito dinheiro na cidade. Jim vai permanecer em sua amada Paris.

Claro que ir ao túmulo de Jim requer do fã de verdade a mesma rebeldia. Sendo assim esse fã vai pular a grade. Fiz isso nas 3 vezes em que estive lá. Minha dica é chegue o mais cedo possível. Paris, a cidade mais visitada do mundo, vive alta temporada de turistas o ano inteiro. O Père-Lachaise também.

Chegue bem cedo ao cemitério, fique por perto do túmulo, certifique-se que a ronda dos funcionários e policiais passou (alguns turistas camaradas podem dar essa informação) e não tenha dúvida: pule a grade. Esse ato é quase uma resposta ao clamor de Jim: "Break On Through", Atravesse para o outro lado.


Vosso blogueiro em "flagrante delito" no túmulo de Jim Morrison. Foto de 2011, nos 40 anos de sua morte.


Faça suas fotos rapidamente e pule de volta o mais rápido possível. Coisa de uns 5 minutos. Nas minhas visitas eu nunca fui "pego em flagrante", mas como nas 3 vezes os policiais vieram direto em minha direção eu acho que fui "dedurado". Em uma das vezes eu estava com um celular tocando músicas dos Doors, num volume baixo, e bebendo meu Jack Daniels. Outros fãs mais entusiasmados chegaram a pedir que eu tocasse determinadas músicas da banda. A policial que veio não gostou nem um pouco. Tomou minha garrafa e claro tive de desligar a música aos berros dela. Uma dica: se for beber mantenha a garrafa em um saco de papel pardo. Eu estava um tanto excitado e me descuidei dessa regrinha básica.


Minha rebeldia influenciando as pessoas.



Mas tudo vale a pena quando se visita Jim Morrison. Ele com certeza aprovaria meu comportamento e o incentivaria. Engraçado ver que muitos dos outros fãs que não tiveram a coragem em pular a grade ficam olhando para você com uma nítida admiração, quase inveja. Mas alguns criam coragem e pulam logo depois de você.

Depois percorra o cemitério e veja os outros túmulos. Na saída não deixe de fazer uma pausa na Brasserie Le Père Lachaise, que fica exatamente em frente da entrada principal do cemitério. Brinde às suas aventuras com uma boa cerveja belga Hoegaarden e prove os deliciosos camarões flambados no cognac da casa. A decoração é cheia de fotos de alguns dos famosos "moradores" do cemitério, mas existe um canto com grande destaque para Jim, com várias fotos dele, quase um santuário.

A simpática Brasserie Le Père Lachaise, perfeita para uma gelada depois da aventura "morrisoniana".


Morrison vivia na "terra dos livres", ou como ele mesmo sempre dizia: "Eu quero a liberdade de experimentar tudo, sem limites, sem leis. Eu não sou louco, estou interessado em liberdade".

Sendo assim se você é fã de Jim Morrison, e planeja visitá-lo em sua última morada, mantenha a chama da rebeldia acesa, "teste os limites", "atravesse para o outro lado", "monte a serpente"...

E, bon voyage... E se você é fã mesmo deu "aquela vontade" de ouvir Doors, certo? Bom, ouça alguns dos clássicos da banda no meu vídeo de minha primeira visita "morrisoniana" em 2011, nos 40 anos de sua morte.

Enjoy... e depois, claro, deixe suas impressões e opiniões nos comentários.








terça-feira, 28 de janeiro de 2014

POR QUE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL (AINDA) NOS FASCINA TANTO?



Essa é uma questão interessante, que divide especialistas e leigos. Como algo tão brutal e sanguinário pode servir de “hobby” para alguns? Como isso pode acontecer com uma tragédia humana que matou mais de 50 milhões de pessoas e deixou o mundo em ruínas? Muito se falou sobre o tema, teorias e teses filosóficas tentaram explicar esse nosso “mórbido interesse”.



O mapa da Europa em guerra em 1942. A Alemanha de novo lutando em 2 frentes.



Curiosamente o mesmo não ocorre com outros conflitos na História. Basta uma pesquisa rápida para se descobrir que existem milhares, dezenas de milhares de livros sobre a Segunda Guerra Mundial. E mais de 70 anos depois do início do conflito eles continuam a ser escritos.  

Uma coisa que me parece inegável é que, talvez, a Segunda Guerra tenha sido a última guerra romântica. Havia uma noção difundida entre as pessoas de que era uma guerra justa, o bem combatendo o mal. Será mesmo? Ainda existe muita controvérsia sobre isso, e particularmente me assusto com os chamados “revisionistas” que pretendem fazer uma releitura um tanto fria da questão e das conseqüências diretas dela, como, por exemplo, o holocausto de 6 milhões de judeus.

As pessoas nos anos 1940 tinham inegavelmente uma grande esperança no futuro. Existia uma crença em um mundo melhor. Esperança essa que acho que nos falta hoje. Penso que vivemos hoje a “era das ilusões perdidas”. E isso é doloroso. Talvez por isso as pessoas busquem refúgio num individualismo exacerbado.

Mas voltando ao tema, alguns dizem que o motivo do fascínio era a rara presença de tantos líderes nacionais tresloucados, como o alemão Hitler, o italiano Mussolini, o russo Stalin e o nipônico Tojo. Pode ser, mas o mundo continua a produzir seus “Saddam’s, Kadafi’s, Bush’s e demais malucos”, infelizmente. E isso nem sempre é motivo de júbilo.

Seriam as batalhas épicas da II Guerra a razão do frenesi? As batalhas da Inglaterra, Guadalcanal, Stalingrado, Dia-D, do Bulge, Iwo-Jima ou as grandes batalhas navais no Pacífico foram tão diferentes das batalhas da Guerra do Vietnam, ou da Guerra do Golfo? Sabemos que a guerra é estúpida, imoral, violenta e mortal, mas ainda assim não conseguimos nos afastar dela.



O excelente filme "Pearl Harbor". Apesar do canastrão Ben Affleck.


Lembro-me bem, quando do lançamento do filme “Pearl Harbor”, em 2001, aquela bela história que Ben Affleck tentou destruir com sua habitual canastrice, que houve um debate parecido, muito se comentou sobre os sucessivos lançamentos de filmes sobre a II Guerra. Nunca me esqueci de ter lido uma frase genial numa revista: “a segunda guerra nos prende e não nos deixa ir”. 

No começo dos anos 2000 diziam que os heróis da II Guerra estavam morrendo e seus filhos e netos queriam compreender melhor o que se passou.  Por isso tantos filmes e séries de TV sobre ela. Em 1998 foi lançado talvez o melhor filme de guerra de todos os tempos: “O Resgate do Soldado Ryan”. No mesmo ano de “Pearl Harbor”, 2001, a dupla Steven Spielberg e Tom Hanks produziu a monumental série “Band of Brothers”, baseada no livro de Stephen E. Ambrose. E em 2010 voltaram ao tema, desta vez com “The Pacific”.


Band Of Brothers: quem sangra comigo é meu irmão.


Um dos exercícios prediletos dos aficionados no conflito é perguntar “e se?”. “E se Hitler não tivesse invadido a União Soviética e lutado em 2 frentes, repetindo o erro histórico da I Guerra e de Napoleão”? “E se o III Reich tivesse vencido a guerra, como seria o mundo hoje”? “E se Hitler escapou vivo”? 

Esses e tantos outros exercícios de adivinhações e elucubrações perseguem muitos. Não me lembro de ter visto um livro que perguntava “e se Napoleão tivesse vencido em Waterloo”?



Todos os anos ocorrem festividades no aniversário do Dia D. 



Todos os anos, durante as comemorações do Dia-D, ocorrido em 6 de junho de 1944, em toda a região da Normandia francesa ocorrem festividades lembrando a data. Centenas, milhares de fãs se vestem com fardas da época e participam de simulações das batalhas. Quem foi a Europa sabe que a Segunda Guerra ainda é muito presente na vida das pessoas, na França principalmente. Os povos que foram invadidos e dominados pelos nazistas não se esquecem dos dias de agruras e dos Aliados libertadores. 

Uma garantia de que ainda teremos muitos lançamentos de novos livros com essa temática é que ainda falta muita coisa para vir a público. Muitos documentos das nações envolvidas ainda estão arquivados com a classificação de “top secret”. Os historiadores terão muita coisa para se debruçar num futuro breve. E nossa compreensão da guerra ainda pode mudar, afinal a História é ciência viva.

O lado alemão da história permanece imerso em certo mistério. O povo alemão passou décadas do pós-guerra ignorando o tema, um grande tabu para eles. Como os alemães permitiram as atrocidades nazistas? Era o que a pensadora austríaca Gitta Sereny chamava de “o trauma alemão”. Nos últimos anos isso tem mudado, os alemães têm revisto essa postura, principalmente as gerações mais novas têm buscado expiar sua culpa e entender melhor o seu passado.

Sabemos que a História é escrita pelos vencedores, mas no caso da Segunda Guerra muita coisa ainda será escrita. E ela ainda continuará a fascinar as pessoas. Apesar de parecer paradoxal essa “paixão” que a guerra causa pode ter relação com o desejo de que algo assim nunca se repita, afinal devemos conhecer e entender o passado para evitar que ele se repita no futuro.

De minha parte também existe uma devoção a todos aqueles jovens que perderam suas vidas no maior conflito humano da História. Devemos sempre reverenciar esses heróis. Por isso, milhões de pessoas visitam todos os anos os principais locais das batalhas na Europa. 

E você? O que pensa sobre o assunto? Dê sua opinião e deixe seus comentários.

Forte abraço do Falcon.