terça-feira, 28 de janeiro de 2014

POR QUE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL (AINDA) NOS FASCINA TANTO?



Essa é uma questão interessante, que divide especialistas e leigos. Como algo tão brutal e sanguinário pode servir de “hobby” para alguns? Como isso pode acontecer com uma tragédia humana que matou mais de 50 milhões de pessoas e deixou o mundo em ruínas? Muito se falou sobre o tema, teorias e teses filosóficas tentaram explicar esse nosso “mórbido interesse”.



O mapa da Europa em guerra em 1942. A Alemanha de novo lutando em 2 frentes.



Curiosamente o mesmo não ocorre com outros conflitos na História. Basta uma pesquisa rápida para se descobrir que existem milhares, dezenas de milhares de livros sobre a Segunda Guerra Mundial. E mais de 70 anos depois do início do conflito eles continuam a ser escritos.  

Uma coisa que me parece inegável é que, talvez, a Segunda Guerra tenha sido a última guerra romântica. Havia uma noção difundida entre as pessoas de que era uma guerra justa, o bem combatendo o mal. Será mesmo? Ainda existe muita controvérsia sobre isso, e particularmente me assusto com os chamados “revisionistas” que pretendem fazer uma releitura um tanto fria da questão e das conseqüências diretas dela, como, por exemplo, o holocausto de 6 milhões de judeus.

As pessoas nos anos 1940 tinham inegavelmente uma grande esperança no futuro. Existia uma crença em um mundo melhor. Esperança essa que acho que nos falta hoje. Penso que vivemos hoje a “era das ilusões perdidas”. E isso é doloroso. Talvez por isso as pessoas busquem refúgio num individualismo exacerbado.

Mas voltando ao tema, alguns dizem que o motivo do fascínio era a rara presença de tantos líderes nacionais tresloucados, como o alemão Hitler, o italiano Mussolini, o russo Stalin e o nipônico Tojo. Pode ser, mas o mundo continua a produzir seus “Saddam’s, Kadafi’s, Bush’s e demais malucos”, infelizmente. E isso nem sempre é motivo de júbilo.

Seriam as batalhas épicas da II Guerra a razão do frenesi? As batalhas da Inglaterra, Guadalcanal, Stalingrado, Dia-D, do Bulge, Iwo-Jima ou as grandes batalhas navais no Pacífico foram tão diferentes das batalhas da Guerra do Vietnam, ou da Guerra do Golfo? Sabemos que a guerra é estúpida, imoral, violenta e mortal, mas ainda assim não conseguimos nos afastar dela.



O excelente filme "Pearl Harbor". Apesar do canastrão Ben Affleck.


Lembro-me bem, quando do lançamento do filme “Pearl Harbor”, em 2001, aquela bela história que Ben Affleck tentou destruir com sua habitual canastrice, que houve um debate parecido, muito se comentou sobre os sucessivos lançamentos de filmes sobre a II Guerra. Nunca me esqueci de ter lido uma frase genial numa revista: “a segunda guerra nos prende e não nos deixa ir”. 

No começo dos anos 2000 diziam que os heróis da II Guerra estavam morrendo e seus filhos e netos queriam compreender melhor o que se passou.  Por isso tantos filmes e séries de TV sobre ela. Em 1998 foi lançado talvez o melhor filme de guerra de todos os tempos: “O Resgate do Soldado Ryan”. No mesmo ano de “Pearl Harbor”, 2001, a dupla Steven Spielberg e Tom Hanks produziu a monumental série “Band of Brothers”, baseada no livro de Stephen E. Ambrose. E em 2010 voltaram ao tema, desta vez com “The Pacific”.


Band Of Brothers: quem sangra comigo é meu irmão.


Um dos exercícios prediletos dos aficionados no conflito é perguntar “e se?”. “E se Hitler não tivesse invadido a União Soviética e lutado em 2 frentes, repetindo o erro histórico da I Guerra e de Napoleão”? “E se o III Reich tivesse vencido a guerra, como seria o mundo hoje”? “E se Hitler escapou vivo”? 

Esses e tantos outros exercícios de adivinhações e elucubrações perseguem muitos. Não me lembro de ter visto um livro que perguntava “e se Napoleão tivesse vencido em Waterloo”?



Todos os anos ocorrem festividades no aniversário do Dia D. 



Todos os anos, durante as comemorações do Dia-D, ocorrido em 6 de junho de 1944, em toda a região da Normandia francesa ocorrem festividades lembrando a data. Centenas, milhares de fãs se vestem com fardas da época e participam de simulações das batalhas. Quem foi a Europa sabe que a Segunda Guerra ainda é muito presente na vida das pessoas, na França principalmente. Os povos que foram invadidos e dominados pelos nazistas não se esquecem dos dias de agruras e dos Aliados libertadores. 

Uma garantia de que ainda teremos muitos lançamentos de novos livros com essa temática é que ainda falta muita coisa para vir a público. Muitos documentos das nações envolvidas ainda estão arquivados com a classificação de “top secret”. Os historiadores terão muita coisa para se debruçar num futuro breve. E nossa compreensão da guerra ainda pode mudar, afinal a História é ciência viva.

O lado alemão da história permanece imerso em certo mistério. O povo alemão passou décadas do pós-guerra ignorando o tema, um grande tabu para eles. Como os alemães permitiram as atrocidades nazistas? Era o que a pensadora austríaca Gitta Sereny chamava de “o trauma alemão”. Nos últimos anos isso tem mudado, os alemães têm revisto essa postura, principalmente as gerações mais novas têm buscado expiar sua culpa e entender melhor o seu passado.

Sabemos que a História é escrita pelos vencedores, mas no caso da Segunda Guerra muita coisa ainda será escrita. E ela ainda continuará a fascinar as pessoas. Apesar de parecer paradoxal essa “paixão” que a guerra causa pode ter relação com o desejo de que algo assim nunca se repita, afinal devemos conhecer e entender o passado para evitar que ele se repita no futuro.

De minha parte também existe uma devoção a todos aqueles jovens que perderam suas vidas no maior conflito humano da História. Devemos sempre reverenciar esses heróis. Por isso, milhões de pessoas visitam todos os anos os principais locais das batalhas na Europa. 

E você? O que pensa sobre o assunto? Dê sua opinião e deixe seus comentários.

Forte abraço do Falcon.

11 comentários:

  1. Escrevo enquanto a bebê fica quietinha observando a gata Zeca. Para mim, muito do fascínio da II Guerra, se deve ao fato de que cresci ouvindo a história dos meus avós judeus-poloneses que conseguiram escapar a tempo do Gueto de Varsóvia, não conseguindo entretanto trazer a família da minha vó que morreu em um campo de concentração. De qlquer forma, concordo quando tu diz que talvez tenha sido a última "guerra romântica"... A bebê me chamou... devo ir! Abçs e parabéns pelo interessante texto.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado por compartilhar um pouco de sua história pessoal. Sempre que comentam no blog como "unknown" fico torcendo para conseguir identificar o autor. Dessa vez pela "bebê" e pela "gata Zeca" tenho minhas suspeitas de quem seja... kkkkk

      Valeu...

      Excluir
    2. Essa parte da história é realmente incrível e sua fala deixa tudo mais gostoso de se ler amor.
      Sempre me interessei pelo assunto, mas foi com a nossa convivência é que me tornei menos leiga e mais fascinada pela Segunda Guerra Mundial. E hoje to ai, até "entendida" do desembarque das tropas norte americanas na Normandia. hehehe
      Parabéns por compartilhar sua paixão!

      Excluir
  2. Bakana! Lembro como se fosse hoje quando levei minha namorada, hoje esposa, para assistir ao filme do Resgate do Soldado Ryan no cinema. Ela ficou traumatizada... Eu vibrei e gostei muito do filme... Realmente é um dos melhores filmes da época! Acho que podemos fazer boas reflexões sobre política e guerras desde que o mundo é mundo... Platoon e Nascido para Matar (ambos sobre a Guerra do Vietnam) também são bons filmes para reflexão... Para quem gosta de ler sobre guerras deixo duas sugestões: "Armas, Germes e Aço" de Jared Diamond, Record; "Inteligência na Guerra" de John Keegan, Cia das Letras!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Realmente meu caro Julio, "Platoon" e "Nascido Para Matar" (adoro Kubrick) são excelentes filmes, densos e profundos. Mas como o Vietnan foi uma guerra impopular e "politicamente incorreta" a abordagem é diferente.

      Obrigado pelas dicas de leituras.

      Abraços combatente...

      Excluir
  3. Uma vez alguém me perguntou ao porquê de "gostar" de filmes, livros, enfim, de assuntos relacionados a guerra.
    Isso submete a vários contextos, mas nunca um questionamento profundo pela pessoa questionadora.
    Pois bem, sempre tento responder para as pessoas e porque não, para mim mesmo, que as situações limites demonstra o grau da humanidade em cada ser humano. Os maiores medos, as maiores atrocidades assim como os maiores feitos, as maiores virtudes do homem estão ali presentes.
    Valores que defendemos arduamente e propalamos no nosso cotidiano se tornam efêmeros e inexistentes diante das adversidades e dessas situações limites.
    A guerra entra nesse contexto. Os inimigos encarnam valores que abominamos, ao mesmo tempo em que apresentam os heróis baluartes dos valores que defendemos. Defendemos por que talvez não consigamos sustentar na adversidade de uma guerra, por isso são heróis. Os heróis nos chamam para embate contra o mal, para a fortaleza de enfrentar os momentos difíceis e altivez para o com o próximo. Eles servem de guia para nos tornar mais “ser humano”.
    Esses sentimentos de se tornar uma pessoa melhor em todos os sentidos, resgata a experiência vivenciada nos idos anos da nossa caserna. Ele se torna presente nesse trabalho, laborioso mais prazeroso, do blog. Parabéns Allyson, pelo blog. Abraços.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Caro combatente de Montanha,

      só posso dizer que "acompanho o relator". Belas palavras. O tema ainda nos "fascinará" por muito tempo.

      Abraços e obrigado pelas palavras de incentivo guerreiro.

      Excluir
  4. A melhor definição que li até hoje para esse sentimento :
    "Um mórbido interesse"

    Um interesse imenso, a 2ª Grande Guerra me fascina de uma maneira inexplicável, como se cada um de nós carregassemos um pouco da culpa pelo que aconteceu. É um assunto que nunca acaba, que nunca deixa de emocionar, de cativar. Em fim, espero que a filosofia um dia tente nos explicar esse nosso mórbido interesse!

    ResponderExcluir
  5. Gostei da sua narrativa... Achei em parte o que na verdade sinto sobre esse momento épico. Obrigado

    ResponderExcluir
  6. Comecei a me interessar pela 2ª Guerra a 2 anos quando assiti Pearl Harbor. Desde então tenho assistido filmes, lido artigos e livros sobre o assunto. A medida que fui me aprofundando no assunto a pergunta que sempre vinha na mente era: É inacreditável que tudo isso realmente aconteceu. É algo muito além, muito mais profundo do que aprendemos na escola. Vidas, emoções, tragédias, mentes insólitas, tudo isso misturado nos leva a ter uma nova visão de mundo. Não essa visão rasa que fomos treinados a ter. Um exemplo é a idolatria a líderes que, na 2ª Guerra se provou trágica mas que ainda hoje vemos se repetir.
    Gostei de suas reflexões.

    ResponderExcluir